Visita ao Museu Afro- brasileiro
O espaço onde se localiza o Museu Afro já foi no
século XVI a Escola dos Jesuítas e no século XVIII com a expulsão dos jesuítas
da Bahia, o espaço passou a ser a primeira escola de medicina do Brasil. Tal
espaço foi fundado por Valentin Calderon, além de ser responsável também pela
fundação do curso de Museologia da Universidade Federal da Bahia.
Na visita realizada ao Mafro, pode-se constatar a
presença de objetos que representam traços das culturas africanas. Foi possível
perceber a riqueza cultural e desmistificar conceitos que são construídos com o
passar dos anos com base no desconhecimento de determinadas práticas culturais
de um povo. Através de suas exposições permanentes, temporárias e itinerantes,
o Museu consegue apresentar as particularidades de uma nação que é
constantemente desvalorizada e marginalizada por nossa sociedade.
Além de apresentar as particularidades da sociedade
africana, a Universidade Federal da Bahia mantém também o Museu de Arqueologia
e Etnologia, que se localiza juntamente com o Mafro na antiga sede da escola de
medicina da UFBA, onde estão expostos instrumentos que se relacionam com as
culturas indígenas presentes no Brasil.
Sabendo disso, neste primeiro momento serão
apresentados fatores etnológicos e arqueológicos inerentes das tribos indígenas
brasileiros. Por meio de objetos como cocais, vestimentas, instrumentos
utilizados para o trabalho, entre outras coisas, foi possível perceber a
diversidade existente entre as tribos indígenas, que também são vítimas de
visões estereotipadas e preconceitos.
Reconhecer a existência da diversidade, e acima de
tudo respeitar o que foge do senso comum da sociedade a qual determinado
indivíduo está presente, é um importante passo para combater as diferenças
étnicas e culturais. Essa afirmação é feita, pois foi visto que os índios não
devem ser taxados como grupos que realizam as mesmas práticas. Observaram-se
diferenças entre os grupos indígenas, principalmente no modo de se vestir e na
produção de ornamentos.
Os Pankararés, tribo indígena residente no norte da
Bahia possui as vestes e rituais bastante diferentes de grupos étnicos oriundos
do centro-oeste brasileiro. Com isso, na
Figura 1 é possível ver o Tonã, que é um traje religioso utilizado em rituais
de cura. Esta veste é utilizada pelos Pankararés e por meio dela, pode-se
constatar a influência de outras religiões em seus rituais de cura. Além da
roupa, similar a de Omolu, orixá da cura, se observa também a presença de um
tecido azul no qual está presente uma cruz, que pode estar relacionado ao
cristianismo.
Outra grande diferença
visualizada em relação aos indígenas, diz respeito à confecção dos cocais. Por
serem oriundos de uma região sertaneja, os cocais dos Pankararés são bem menos
coloridos e diversos do que os grupos indígenas de regiões que possuem uma
variada fauna e flora durante todo o ano. Na figura 2 é apresentada cocais
inerentes da região centro-oeste brasileira, ou seja, cocais criados por
indígenas dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul ou Goiás.
Figura 2 – Cocais indígenas da região centro-oeste
A Figura 3 e 4
apresenta um recipiente o qual era utilizado para armazenar os corpos dos
indígenas mortos. Os recipientes variavam de tamanho de acordo com o tamanho do
corpo.
Figura 3: Recipiente onde se enterravam os indígenas mortos
Figura 4 - Recipientes onde se enterravam os indígenas mortos
Outros objetos que favorecem ao conhecimento etnológica de um
povo são apresentados na Figura 5. Percebe-se que as panelas possuem desenhos e
pinturas e cada evento desse possui um significado. Ou seja, nada é feito
aleatoriamente e existe toda uma simbologia por trás dessas pinturas. Observa-se
também na Figura 5, a presença de pás que são utilizadas para a confecção de
mandiocas.
Figura 5 – Panelas e pás para confecção de mandioca
Por meio das imagens apresentadas acima, é possível conhecer
um pouco da etnologia indígena e desmitificar crenças de que todas as tribos
possuem as mesmas práticas e hábitos. O Museu Etnográfico e Arqueológico
apresenta uma diversidade de objetos que conseguem refletir as práticas
culturais de povos indígenas por milhares de anos. Abaixo se apresenta algumas
peças arqueológicas que conseguem contribuir para a construção da história e
conhecimento desses povos.
Figura 6 – Objetos arqueológicos
Na Figura 6 são apresentadas peças
utilizadas na Idade da Pedra Lascada. Corresponde a pedras que foram utilizadas
para cortes. Ressalta-se que cada pedra possuía uma característica especifica.
Ou seja, a depender do objeto que seria cortado, utilizava-se um estilo de
pedra. Observa-se também um crânio indígena dos séculos passados, que foi
encontrado em escavações realizadas por arqueólogos no Brasil.
Em relação aos grupos étnicos negros, se observa também uma
grande variedade de culturas, práticas e hábitos de um povo. É preciso
entender, que antes de serem traficados para as colônias, os africanos possuíam
práticas inerentes do seu povo e isso não deve ser desvinculados dos grupos
étnicos africanos. Cada nação africana possuíam práticas, religiões e hábitos
que não devem ser esquecidos, pois tudo isso constitui a formação de um povo.
E no Mafro se observa essa diversidade da cultura africana,
visto que acolhe objetos de variadas nações Nigéria, Benin, Gana, Zaire, Angola,
Senegal e entre outras. Seu acervo é constituído por braceletes, máscaras,
instrumentos musicais, objetos utilizados no trabalho entre outros objetos que
ajudam a compreender a cultura afro. Na Figura 7 se observa máscaras oriundas
do Senegal e se entendida dentro do contexto o qual foi criada, se percebe a
riqueza de conhecimentos intrínsecos nesses objetos.
Figura 7 – Máscaras do Senegal
Com a visita ao Mafro se percebeu também as grandes
contribuições dos povos africanos para a cultura mundial. E uma que será aqui
comentada será a metalurgia, prática que foi exercida em todo continente
africano. Os africanos foram os
primeiros a utilizar o ferro no lugar da pedra e utilizou este objeto na
constituição da sua arte. Outro importante fator no que diz respeito às
produções de esculturas dos negros que costumam representar as mulheres como
ser fértil, além de apresentar a importância da mulher para sociedade e ser
representada como símbolo de poder. Isto pode ser observado na Figura 8.
Figura 8 – Esculturas que representam a fertilidade da mulher
Toda essa influência, tanto indígena quanto africana, é
percebida na nossa sociedade soteropolitana atual. No Pelourinho, importante
parte cultural da cidade, se observa a presença de práticas que foram herdadas
dos nossos antepassados africanos e indígenas. Na Figura 9 pode ser percebida a
capoeira desenvolvida pelos cidadãos da cidade do Salvador e sabe-se que a
capoeira foi uma prática realizada desde os séculos passados por africanos,
ainda escravizados nos grandes engenhos. Não podemos desvincular, dessa forma,
as práticas, que atualmente ainda são realizadas pelo nosso povo, dos seus
reais construtores.
Figura 9 – Soteropolitanos jogando capoeira no Pelourinho
Visto tudo isso, é possível perceber a presença de práticas tantos
indígenas quanto africanas nos costumes brasileiros dos dias atuais,
principalmente em Salvador, onde está localizada a maior população negra depois
da África. Ainda assim, é preciso pensar em temas como o preconceito e racismo
que continuam bastantes presentes na atualidade. Isso ocorre devido ao
crescimento em uma cultura que busca desvalorizar tais etnias da sociedade e
torna-se uma bola de neve, que mesmo que seja difícil, é preciso criar meios
para que se possa derreter esse grande problema. Desta forma, esta visita ao
centro histórico de Salvador com uma visão mais critica favorece no
reconhecimento da diversidade presente no povo.
Autora: Andresa Pinheiro