terça-feira, 7 de junho de 2016

Um Giro Cultural em Salvador

Visita ao Museu Afro- brasileiro

O espaço onde se localiza o Museu Afro já foi no século XVI a Escola dos Jesuítas e no século XVIII com a expulsão dos jesuítas da Bahia, o espaço passou a ser a primeira escola de medicina do Brasil. Tal espaço foi fundado por Valentin Calderon, além de ser responsável também pela fundação do curso de Museologia da Universidade Federal da Bahia.
Na visita realizada ao Mafro, pode-se constatar a presença de objetos que representam traços das culturas africanas. Foi possível perceber a riqueza cultural e desmistificar conceitos que são construídos com o passar dos anos com base no desconhecimento de determinadas práticas culturais de um povo. Através de suas exposições permanentes, temporárias e itinerantes, o Museu consegue apresentar as particularidades de uma nação que é constantemente desvalorizada e marginalizada por nossa sociedade.  
Além de apresentar as particularidades da sociedade africana, a Universidade Federal da Bahia mantém também o Museu de Arqueologia e Etnologia, que se localiza juntamente com o Mafro na antiga sede da escola de medicina da UFBA, onde estão expostos instrumentos que se relacionam com as culturas indígenas presentes no Brasil.
Sabendo disso, neste primeiro momento serão apresentados fatores etnológicos e arqueológicos inerentes das tribos indígenas brasileiros. Por meio de objetos como cocais, vestimentas, instrumentos utilizados para o trabalho, entre outras coisas, foi possível perceber a diversidade existente entre as tribos indígenas, que também são vítimas de visões estereotipadas e preconceitos. 
Reconhecer a existência da diversidade, e acima de tudo respeitar o que foge do senso comum da sociedade a qual determinado indivíduo está presente, é um importante passo para combater as diferenças étnicas e culturais. Essa afirmação é feita, pois foi visto que os índios não devem ser taxados como grupos que realizam as mesmas práticas. Observaram-se diferenças entre os grupos indígenas, principalmente no modo de se vestir e na produção de ornamentos.
Os Pankararés, tribo indígena residente no norte da Bahia possui as vestes e rituais bastante diferentes de grupos étnicos oriundos do centro-oeste brasileiro.  Com isso, na Figura 1 é possível ver o Tonã, que é um traje religioso utilizado em rituais de cura. Esta veste é utilizada pelos Pankararés e por meio dela, pode-se constatar a influência de outras religiões em seus rituais de cura. Além da roupa, similar a de Omolu, orixá da cura, se observa também a presença de um tecido azul no qual está presente uma cruz, que pode estar relacionado ao cristianismo.

Figura 1 - Tonã



Outra grande diferença visualizada em relação aos indígenas, diz respeito à confecção dos cocais. Por serem oriundos de uma região sertaneja, os cocais dos Pankararés são bem menos coloridos e diversos do que os grupos indígenas de regiões que possuem uma variada fauna e flora durante todo o ano. Na figura 2 é apresentada cocais inerentes da região centro-oeste brasileira, ou seja, cocais criados por indígenas dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul ou Goiás. 

Figura 2 – Cocais indígenas da região centro-oeste


A Figura 3 e 4 apresenta um recipiente o qual era utilizado para armazenar os corpos dos indígenas mortos. Os recipientes variavam de tamanho de acordo com o tamanho do corpo. 

Figura 3: Recipiente onde se enterravam os indígenas mortos



Figura 4 - Recipientes onde se enterravam os indígenas mortos




Outros objetos que favorecem ao conhecimento etnológica de um povo são apresentados na Figura 5. Percebe-se que as panelas possuem desenhos e pinturas e cada evento desse possui um significado. Ou seja, nada é feito aleatoriamente e existe toda uma simbologia por trás dessas pinturas. Observa-se também na Figura 5, a presença de pás que são utilizadas para a confecção de mandiocas.

Figura 5 – Panelas e pás para confecção de mandioca



Por meio das imagens apresentadas acima, é possível conhecer um pouco da etnologia indígena e desmitificar crenças de que todas as tribos possuem as mesmas práticas e hábitos. O Museu Etnográfico e Arqueológico apresenta uma diversidade de objetos que conseguem refletir as práticas culturais de povos indígenas por milhares de anos. Abaixo se apresenta algumas peças arqueológicas que conseguem contribuir para a construção da história e conhecimento desses povos.

Figura 6 – Objetos arqueológicos


            Na Figura 6 são apresentadas peças utilizadas na Idade da Pedra Lascada. Corresponde a pedras que foram utilizadas para cortes. Ressalta-se que cada pedra possuía uma característica especifica. Ou seja, a depender do objeto que seria cortado, utilizava-se um estilo de pedra. Observa-se também um crânio indígena dos séculos passados, que foi encontrado em escavações realizadas por arqueólogos no Brasil.
Em relação aos grupos étnicos negros, se observa também uma grande variedade de culturas, práticas e hábitos de um povo. É preciso entender, que antes de serem traficados para as colônias, os africanos possuíam práticas inerentes do seu povo e isso não deve ser desvinculados dos grupos étnicos africanos. Cada nação africana possuíam práticas, religiões e hábitos que não devem ser esquecidos, pois tudo isso constitui a formação de um povo.
E no Mafro se observa essa diversidade da cultura africana, visto que acolhe objetos de variadas nações Nigéria, Benin, Gana, Zaire, Angola, Senegal e entre outras. Seu acervo é constituído por braceletes, máscaras, instrumentos musicais, objetos utilizados no trabalho entre outros objetos que ajudam a compreender a cultura afro. Na Figura 7 se observa máscaras oriundas do Senegal e se entendida dentro do contexto o qual foi criada, se percebe a riqueza de conhecimentos intrínsecos nesses objetos.

Figura 7 – Máscaras do Senegal



Com a visita ao Mafro se percebeu também as grandes contribuições dos povos africanos para a cultura mundial. E uma que será aqui comentada será a metalurgia, prática que foi exercida em todo continente africano.  Os africanos foram os primeiros a utilizar o ferro no lugar da pedra e utilizou este objeto na constituição da sua arte. Outro importante fator no que diz respeito às produções de esculturas dos negros que costumam representar as mulheres como ser fértil, além de apresentar a importância da mulher para sociedade e ser representada como símbolo de poder. Isto pode ser observado na Figura 8.

Figura 8 – Esculturas que representam a fertilidade da mulher



Toda essa influência, tanto indígena quanto africana, é percebida na nossa sociedade soteropolitana atual. No Pelourinho, importante parte cultural da cidade, se observa a presença de práticas que foram herdadas dos nossos antepassados africanos e indígenas. Na Figura 9 pode ser percebida a capoeira desenvolvida pelos cidadãos da cidade do Salvador e sabe-se que a capoeira foi uma prática realizada desde os séculos passados por africanos, ainda escravizados nos grandes engenhos. Não podemos desvincular, dessa forma, as práticas, que atualmente ainda são realizadas pelo nosso povo, dos seus reais construtores. 


Figura 9 – Soteropolitanos jogando capoeira no Pelourinho


Visto tudo isso, é possível perceber a presença de práticas tantos indígenas quanto africanas nos costumes brasileiros dos dias atuais, principalmente em Salvador, onde está localizada a maior população negra depois da África. Ainda assim, é preciso pensar em temas como o preconceito e racismo que continuam bastantes presentes na atualidade. Isso ocorre devido ao crescimento em uma cultura que busca desvalorizar tais etnias da sociedade e torna-se uma bola de neve, que mesmo que seja difícil, é preciso criar meios para que se possa derreter esse grande problema. Desta forma, esta visita ao centro histórico de Salvador com uma visão mais critica favorece no reconhecimento da diversidade presente no povo.

Autora: Andresa Pinheiro

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