Resumo do Texto: O Racismo científico da teoria a Prática
A medida que a escravidão moderna se desenvolvia e se
intensificou principalmente nos séculos XVII e XVIII, surgiram estudiosos que
defendiam a manutenção da escravidão ou o seu fim. No entanto, o que nos
interessa foram aqueles que passaram a desenvolver teses para justificar que a
escravidão era pautada por preceitos "científicos", nos quais a
"raça superior" deteria o "direito" de governar as
"raças inferiores".
No século de XVI os homens passaram a atribuir nomes a
animais e plantas para identificá-los e diferenciá-los entre si. E com essa
revolução e renascimento Cultural que os estudos na botânica zoológica
começaram a se desenvolver até se tornarem Ciências, e assim surge a taxonomia
( técnica de classificação dos seres vivos), idealizada por Carlos Lineu, que
no inicio classificava animais e plantas e depois inclui o ser humano como
pertencente a família dos primatas mamíferos e etc.
No século XVIII Johann Friedrich Blumembach, lança sua tese
intitulada como a variedade nativa da raça humana. Essa obra fazia um estudo do
volume do crânio de diferentes seres humanos, e que isso seria uma prova da
existência de varias raças humanas: caucasoide (brancas), mongoloide (amarela),
malaia (marrom), etiópica (negra) e americana (vermelha).
No século XIX Joseph Arthur, lança uma obra intitulada de
Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, onde ela defendia a ideia da
superioridade da raça branca, pois a mesma foi responsável e fundamental para o
desenvolvimento das maiores civilizações humanas. Por esse motivo o “homem branco” era
naturalmente dotado de intelecto superior, se comparado a outras raças.
Gobineau também afirmava em sua tese que a miscigenação racial foi um grande
mal para a humanidade, daí nações onde predominavam indivíduos oriundos do
cruzamento entre brancos, amarelos, negros e pardos estavam fadadas ao atraso
civilizador, cultural, social e moral. Pois a miscigenação gerava indivíduos
fracos e geneticamente inferiores, principalmente em termos cognitivos e morais
(SOUSA, 2013, p. 24).
Gobineau, defendia que as grandes civilizações entraram em
colapso, porque teriam se misturado a “raças inferiores". Pensamento este
que foi reaproveitados pelos nazistas como forma de justificar a derrota alemã
na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e a política antissemita defendida por
Adolf Hitler, no que resultou no hediondo Holocausto dos judeus. Hitler pensava
que a Alemanha só poderia tornar-se definitivamente uma potência mundial,
quando expurga-se as raças inferiores que atrasavam o desenvolvimento da
nação.
Gobineau também chegou a dizer que nações bastantes
miscigenadas como o Brasil, estariam destinadas a serem extintas, pois era um
povo inferior. Ironicamente, o mesmo era amigo do imperador D. Pedro II, o qual
embora não concordasse plenamente com as ideias do conde, ainda assim,
continuou a ser seu amigo por vários anos e até o convidou para ser ministro da
França no Brasil, em 1869 (SOUSA, 2006, p. 1). Quatro anos se passaram e o botânico
Charles Darwin, lança o seu livro a origem das espécies. Com a obra que abalou
a sociedade a descendência do Homem e Seleção em relação ao sexo, que
apresentou sua hipótese da evolução da espécie humana, mas sem adentrar
propriamente o debate racial. Essa teoria é reforçada com a descoberta do
fóssil do homem de Neardental, que foi considerado um homem primitivo, titulado
uma espécie diferente, o que se mostrava como fundamento para a teoria
Darwinista. "Nos tempos de Charles Darwin tornara-se usual hierarquizar as
raças humanas em função de suas
capacidades intelectuais e explicar as realizações culturais e econômicas dos
povos a partir de potencialidades raciais. Contudo, no século XIX, ninguém se
entendia sobre a própria classificação racial e tentavam classificar de acordo
com as suas ideias.
Em meados do século XIX há um grande embate ao pensar a
origem do homem. De um lado, a visão
monogenista, influenciou a maior parte dos pensadores que acreditavam que a
humanidade era una. O homem, segundo
essa versão teria se originado de uma fonte comum,sendo os diferentes tipos
humanos, apenas um produto "da maior degeneração ou perfeição do
Éden" . Nesse tipo de argumentação vinha embutida, por outro lado, a noção
de virtualidade, pois a origem uniforme garantiria um desenvolvimento (mais ou
menos) retardado, mais de toda forma semelhante. Pensava-se a humanidade como
um gradiente - que iria ao mais perfeito (mais próximo do Éden) ao menos
perfeito (mediante a degeneração) -, sem pressupor, num primeiro momento, uma
noção única de evolução". (SCHWARCZ, 1993, 48).
O pensamento monogênico era bastante influenciado pelas
ideias cristãs, de uma origem edênica, no entanto, como observado na citação
acima, o preceito da degeneração como vetor de um atraso já se encontrava
presente. A partir da obra de Gobineau e Darwin, a tese poligênica passou a
ganhar maior reputação, pois a evolução biológica proposta por Darwin,
tornou-se um forte embasamento, para respaldar as disparidades físicas e
sociais vistas entre distintos povos do mundo (SCHWARCZ, 1993, p. 48).
Não obstante, ainda no século XIX as ideias evolucionistas
de Darwin, passaram a serem conhecidas como darwinismo, acabaram sendo usadas
por outros estudiosos para dar origem ao chamado darwinismo social, cuja linha
de pensamento procurou implantar nos estudos sociológicos, antropológicos,
geográficos, arqueológicos e históricos a concepção de "evolução social e
cultural". Essa nova perspectiva via de forma pessimista a miscigenação,
já que acreditava que não "se transmitiriam caracteres adquiridos",
nem mesmo por um processo de evolução social. Ou seja, as raças constituiriam
em fenômenos finais, resultados imutáveis, sendo todo cruzamento, por
princípio, entendido como erro. As decorrências lógicas desse tipo de postulado
eram duas: enaltecer a existência de "tipos puros" - e portanto, não
sujeitos a processos de miscigenação - e compreender a mestiçagem como sinônimo
de degeneração não só racial mas como social". (SCHWARCZ, 1993, p. 58).
Com base na teoria da seleção natural, procurou-se dizer que
o desenvolvimento dos povos deveu-se a forma de como eles se adaptavam as
mudanças do mundo, fossem de ordem natural ou humana; por tal pensamento, os
povos atrasados eram os menos aptos a sobrevivência, estando vulneráveis a
serem assimilados ou destruídos por "culturas mais
sofisticadas".
Tal ideia embasou as políticas imperialistas do século XIX e
começo do XX, como uma das justificativas para se manter a colonização nas
Américas, África e Ásia, pois as "nações europeias" que era
"superiores", estavam "salvaguardando" as "nações
inferiores", pois estas "naturalmente" se encontravam em um
"estágio atrasado", e não possuiriam os "meios para se
desenvolverem" e acabariam fatidicamente se "auto-aniquilando",
ou "causando males a outras nações".
Mesmo com o fim da escravidão na Europa, já na segunda
metade do século XIX, as expedições realizadas pelos nobres e ricos burgueses
às Américas, África e Ásia, ainda se mantiveram, e embora não se capturasse
mais escravos, não significava que não se pudesse "caçar pessoas"
para servir de cobaias para as pseudociências da época; servir de espetáculos
para circos, zoológicos, feiras, festas, etc., ou por mero esporte.
Entre as décadas de 1890 e 1950 houve na Europa, América do
Norte, Ásia e África, zoológicos que exibiam seres humanos. Hoje isso pode soar
como ficção, como algo impensável, mas não faz cem anos que zoológicos pararam
de exibir pessoas em jaulas. O auge dos zoológicos humanos se deu entre 1890 e
1930, sendo um grande espetáculo na época, chegando a atrair milhares de
pessoas para verem aquelas exóticas criaturas que pareciam ser gente. Essa
pratica repercutiram até o século XX onde não era incomum encontrar ameríndios,
africanos e asiáticos sendo expostos como atração, vemos isso no filme Vênus
Negra de forma explicita. Através desses fatos podemos perceber um pouco da
historia do racismo, que vigorou por 100 anos , e que embora estejamos no
século XXI, sentimos os seus reflexos.
Menina Africana sendo exibida no zoológico
DARWIN,
Charles. A Origem das Espécies. Tradução de André Campos Mesquita. São
Paulo, Editora Escala, 2009.
MAGNOLI, Demétrio. Uma gota de sangue: história do pensamento racial. São Paulo, Contexto, 2009. (Capítulo 1: Uma história do sangue).
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo, Companhia das Letras, 1993. (Capítulo 2).
SOUSA, Ricardo Alexandre Santos de. O Conde de Gobineau e o horror à ambivalência. Usos do Passado - XII Encontro Regional de História, ANPUH/RJ, 2006, p. 1-6.
SOUSA, Ricardo Alexandre Santos de. A extinção dos brasileiros segundo o Conde de Gobineau. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, jan/jun 2013, p. 21-34.
MAGNOLI, Demétrio. Uma gota de sangue: história do pensamento racial. São Paulo, Contexto, 2009. (Capítulo 1: Uma história do sangue).
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo, Companhia das Letras, 1993. (Capítulo 2).
SOUSA, Ricardo Alexandre Santos de. O Conde de Gobineau e o horror à ambivalência. Usos do Passado - XII Encontro Regional de História, ANPUH/RJ, 2006, p. 1-6.
SOUSA, Ricardo Alexandre Santos de. A extinção dos brasileiros segundo o Conde de Gobineau. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, jan/jun 2013, p. 21-34.
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