domingo, 12 de junho de 2016


Resumo do Texto: O Racismo científico da teoria a Prática


A medida que a escravidão moderna se desenvolvia e se intensificou principalmente nos séculos XVII e XVIII, surgiram estudiosos que defendiam a manutenção da escravidão ou o seu fim. No entanto, o que nos interessa foram aqueles que passaram a desenvolver teses para justificar que a escravidão era pautada por preceitos "científicos", nos quais a "raça superior" deteria o "direito" de governar as "raças inferiores".

No século de XVI os homens passaram a atribuir nomes a animais e plantas para identificá-los e diferenciá-los entre si. E com essa revolução e renascimento Cultural que os estudos na botânica zoológica começaram a se desenvolver até se tornarem Ciências, e assim surge a taxonomia ( técnica de classificação dos seres vivos), idealizada por Carlos Lineu, que no inicio classificava animais e plantas e depois inclui o ser humano como pertencente a família dos primatas mamíferos e etc.    

No século XVIII Johann Friedrich Blumembach, lança sua tese intitulada como a variedade nativa da raça humana. Essa obra fazia um estudo do volume do crânio de diferentes seres humanos, e que isso seria uma prova da existência de varias raças humanas: caucasoide (brancas), mongoloide (amarela), malaia (marrom), etiópica (negra) e americana (vermelha).

No século XIX Joseph Arthur, lança uma obra intitulada de Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, onde ela defendia a ideia da superioridade da raça branca, pois a mesma foi responsável e fundamental para o desenvolvimento das maiores civilizações humanas.  Por esse motivo o “homem branco” era naturalmente dotado de intelecto superior, se comparado a outras raças. Gobineau também afirmava em sua tese que a miscigenação racial foi um grande mal para a humanidade, daí nações onde predominavam indivíduos oriundos do cruzamento entre brancos, amarelos, negros e pardos estavam fadadas ao atraso civilizador, cultural, social e moral. Pois a miscigenação gerava indivíduos fracos e geneticamente inferiores, principalmente em termos cognitivos e morais (SOUSA, 2013, p. 24).

Gobineau, defendia que as grandes civilizações entraram em colapso, porque teriam se misturado a “raças inferiores". Pensamento este que foi reaproveitados pelos nazistas como forma de justificar a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e a política antissemita defendida por Adolf Hitler, no que resultou no hediondo Holocausto dos judeus. Hitler pensava que a Alemanha só poderia tornar-se definitivamente uma potência mundial, quando expurga-se as raças inferiores que atrasavam o desenvolvimento da nação. 

Gobineau também chegou a dizer que nações bastantes miscigenadas como o Brasil, estariam destinadas a serem extintas, pois era um povo inferior. Ironicamente, o mesmo era amigo do imperador D. Pedro II, o qual embora não concordasse plenamente com as ideias do conde, ainda assim, continuou a ser seu amigo por vários anos e até o convidou para ser ministro da França no Brasil, em 1869 (SOUSA, 2006, p. 1).             Quatro anos se passaram e o botânico Charles Darwin, lança o seu livro a origem das espécies. Com a obra que abalou a sociedade a descendência do Homem e Seleção em relação ao sexo, que apresentou sua hipótese da evolução da espécie humana, mas sem adentrar propriamente o debate racial. Essa teoria é reforçada com a descoberta do fóssil do homem de Neardental, que foi considerado um homem primitivo, titulado uma espécie diferente, o que se mostrava como fundamento para a teoria Darwinista. "Nos tempos de Charles Darwin tornara-se usual hierarquizar as raças humanas  em função de suas capacidades intelectuais e explicar as realizações culturais e econômicas dos povos a partir de potencialidades raciais. Contudo, no século XIX, ninguém se entendia sobre a própria classificação racial e tentavam classificar de acordo com as suas ideias.

Em meados do século XIX há um grande embate ao pensar a origem do homem.  De um lado, a visão monogenista, influenciou a maior parte dos pensadores que acreditavam que a humanidade era una.  O homem, segundo essa versão teria se originado de uma fonte comum,sendo os diferentes tipos humanos, apenas um produto "da maior degeneração ou perfeição do Éden" . Nesse tipo de argumentação vinha embutida, por outro lado, a noção de virtualidade, pois a origem uniforme garantiria um desenvolvimento (mais ou menos) retardado, mais de toda forma semelhante. Pensava-se a humanidade como um gradiente - que iria ao mais perfeito (mais próximo do Éden) ao menos perfeito (mediante a degeneração) -, sem pressupor, num primeiro momento, uma noção única de evolução". (SCHWARCZ, 1993, 48).

O pensamento monogênico era bastante influenciado pelas ideias cristãs, de uma origem edênica, no entanto, como observado na citação acima, o preceito da degeneração como vetor de um atraso já se encontrava presente. A partir da obra de Gobineau e Darwin, a tese poligênica passou a ganhar maior reputação, pois a evolução biológica proposta por Darwin, tornou-se um forte embasamento, para respaldar as disparidades físicas e sociais vistas entre distintos povos do mundo (SCHWARCZ, 1993, p. 48).

Não obstante, ainda no século XIX as ideias evolucionistas de Darwin, passaram a serem conhecidas como darwinismo, acabaram sendo usadas por outros estudiosos para dar origem ao chamado darwinismo social, cuja linha de pensamento procurou implantar nos estudos sociológicos, antropológicos, geográficos, arqueológicos e históricos a concepção de "evolução social e cultural". Essa nova perspectiva via de forma pessimista a miscigenação, já que acreditava que não "se transmitiriam caracteres adquiridos", nem mesmo por um processo de evolução social. Ou seja, as raças constituiriam em fenômenos finais, resultados imutáveis, sendo todo cruzamento, por princípio, entendido como erro. As decorrências lógicas desse tipo de postulado eram duas: enaltecer a existência de "tipos puros" - e portanto, não sujeitos a processos de miscigenação - e compreender a mestiçagem como sinônimo de degeneração não só racial mas como social". (SCHWARCZ, 1993, p. 58).
Com base na teoria da seleção natural, procurou-se dizer que o desenvolvimento dos povos deveu-se a forma de como eles se adaptavam as mudanças do mundo, fossem de ordem natural ou humana; por tal pensamento, os povos atrasados eram os menos aptos a sobrevivência, estando vulneráveis a serem assimilados ou destruídos por "culturas mais sofisticadas".                                                                                               

Tal ideia embasou as políticas imperialistas do século XIX e começo do XX, como uma das justificativas para se manter a colonização nas Américas, África e Ásia, pois as "nações europeias" que era "superiores", estavam "salvaguardando" as "nações inferiores", pois estas "naturalmente" se encontravam em um "estágio atrasado", e não possuiriam os "meios para se desenvolverem" e acabariam fatidicamente se "auto-aniquilando", ou "causando males a outras nações".

Mesmo com o fim da escravidão na Europa, já na segunda metade do século XIX, as expedições realizadas pelos nobres e ricos burgueses às Américas, África e Ásia, ainda se mantiveram, e embora não se capturasse mais escravos, não significava que não se pudesse "caçar pessoas" para servir de cobaias para as pseudociências da época; servir de espetáculos para circos, zoológicos, feiras, festas, etc., ou por mero esporte.


Entre as décadas de 1890 e 1950 houve na Europa, América do Norte, Ásia e África, zoológicos que exibiam seres humanos. Hoje isso pode soar como ficção, como algo impensável, mas não faz cem anos que zoológicos pararam de exibir pessoas em jaulas. O auge dos zoológicos humanos se deu entre 1890 e 1930, sendo um grande espetáculo na época, chegando a atrair milhares de pessoas para verem aquelas exóticas criaturas que pareciam ser gente. Essa pratica repercutiram até o século XX onde não era incomum encontrar ameríndios, africanos e asiáticos sendo expostos como atração, vemos isso no filme Vênus Negra de forma explicita. Através desses fatos podemos perceber um pouco da historia do racismo, que vigorou por 100 anos , e que embora estejamos no século XXI, sentimos os seus reflexos.




Menina Africana sendo exibida no zoológico


DARWIN, Charles. A Origem das Espécies. Tradução de André Campos Mesquita. São Paulo, Editora Escala, 2009.
MAGNOLI, Demétrio. Uma gota de sangue: história do pensamento racial. São Paulo, Contexto, 2009. (Capítulo 1: Uma história do sangue).
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo, Companhia das Letras, 1993. (Capítulo 2).
SOUSA, Ricardo Alexandre Santos de. O Conde de Gobineau e o horror à ambivalência. Usos do Passado - XII Encontro Regional de História, ANPUH/RJ, 2006, p. 1-6.
SOUSA, Ricardo Alexandre Santos de. A extinção dos brasileiros segundo o Conde de Gobineau. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, jan/jun 2013, p. 21-34. 




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