segunda-feira, 19 de junho de 2017

     

A História de Salvador e o Nascimento da Caixa D água

       


     Introdução: Este bloco tem por objetivo discutir a fundação e importância de Salvador no século XV, e como sua acuidade contribuiu para a origem do bairro da caixa D´água, área pertinente a Liberdade.



SALVADOR- BERÇO DO BRASIL

Em 29 de março de 1549, Tomé de Souza, ao desembarcar, foi recebido por Caramuru, seus descendentes, alguns índios e uns 50 Europeus. Obedecendo a ordens expressas de D. João III, fundou aqui a primeira sede do Governo Geral do Brasil que posteriormente seria a cidade do Salvador. O processo de colonização seria centralizado a partir desse local.

Entre o descobrimento do Brasil e a chegada de Tomé de Souza, passaram-se quase 50 anos, só depois de todo esse tempo é que salvador nasceu com a finalidade especifica de ser a primeira sede do Governo português do Brasil.


Diogo Álvares, (branco e de barba branca, ostenta um cocar de índio); nenhum símbolo mais eloquente da recepção dos portugueses que restavam na Vila do Pereira, ao governador Tomé de Souza- 1592- Gravura em De Bry , Theodore- América Tertia Pass... MDXCII. Foto: História Visual- Correio da Bahia, vol. , pág 4




Com o tempo o governo foi se desenvolvendo dando espaço para que ocorresse algumas realizações, destacando-se os incentivos à lavoura da cana-de-açúcar, o início da criação de gado e a organização de expedições que saíam pelas matas à procura de metais preciosos. Pela localização privilegiada, a cidade torna-se centro dinâmico da hinterlândia, ou seja, área econômica e geográfica que atraia cargas e descargas trazidas de navios de todo Atlântico Sul. Salvador era centro político administrativo e polo econômico do ciclo da cana-de-açúcar, tabaco, cachaça, álcool, madeiras, algodão e centro exportador e importador de escravos e produtos manufaturados europeus. Era passagem obrigatória de embarcações do comércio vindas da África, Índia e da China para o Brasil. A cidade de Salvador era o porto mais importante do ponto de vista comercial e de localização estratégica em relação às correntes marinhas e regime de ventos, o que lhe dava vantagens e favorecia a transação do tráfico de navios e escravos. O que transformou Salvador num centro de distribuição de mercadorias para todo Atlântico. 


 

O desenho é de uma planta baixa da Cidade Do salvador que foi fundada originalmente como uma fortaleza aparecem pontas ( baluartes) é datado em 1549. A planta possui caráter de urbanização pelo traçado de suas ruas, praças, muros e cercas dando a ideia de um povoado protegido pela fortaleza. Apresenta defesas naturais do lado Oeste: a montanha era íngreme, penosa e difícil e a vertente do Rio das tripas era caudaloso com charcos e lamaçais. A ribanceira dava para um porto com a vantagem de a água ser uma grande fonte para a aguarda de navios. O terreno apresentava a vantagem de edificar construções com fartura de água para matar a sede dos habitantes.  Possuía duas portas nas extremidades  dos muros que a protegiam: ao norte a porta de Santa Catarina- e ao sul a porta de Santa Luzia- porta de São Bento, essas portas possuíam duas pontes levadiças que atravessavam o fosso ao redor da fortificação.


Nela residiram o primeiro Governador Geral e as mais importantes autoridades responsáveis pela justiça, fazenda, defesa etc. Aí existe muita repartição também seria instalada a sede do primeiro bispado do Brasil sob a responsabilidade do Pe. Manoel de Nóbrega. Dessa forma, salvador seria o centro do poder da Colônia portuguesa no outro lado do Atlântico.
Para construir Salvador Tomé de Souza necessitava tanto de recursos humanos como materiais. Assim, chegaram a Bahia, cerca de 1.000 homens, para auxilia-lo na tarefa de construir e administrar a cidade. Todos os recursos foram providenciados pelo Rei de Portugal, que além de ter enviado escravos Africanos, autorizou a apreensão dos índios para o trabalho forçado.
Segundo alguns registros históricos, o tesoureiro Gonçalo Ferreira, recebeu ordem do governador para adquirir bois a serem usados nas obras de edificação da cidade de Salvador. Reportam que os primeiros exemplares adquiridos pelo tesoureiro teriam vindo do Pernambuco. Tomé de Souza mais tarde, solicitou ao rei de Portugal João III (1502-1557) e recebeu a caravela ‘Galga’, apenas para o transporte de gado bovino para a Colônia. A 'Galga' foi autorizada a fazer várias viagens a Cabo Verde e ao arquipélago de Açores, trazendo muitas cabeças de gado, que desembarcaram em Salvador.  Vieram de Portugal também alguns carpinteiros especialistas na confecção de carros de bois e carreiros práticos, para ensinar aos colonos, como usar os carros de bois. Em meados da década e 1550, segundo os cronistas da época, já se podia ouvir o ranger de carros de bois nas ruas da nascente cidade de Salvador. Os carros de bois foram daí até o advento das estradas de ferro, o meio de transporte mais importante do interior do Brasil. A cidade prosperou,em 1600, o jesuíta Fernão Cardim (1549-1625) relatava que a população de Salvador era composta de 3.000 brancos de origem portuguesa, 4.000 escravos africanos negros e 8.000 indígenas.
Então, assim foi fundada oficialmente a cidade de Cidade do São Salvador da Baía de Todos os Santos, que neste período desempenhou um papel estratégico na defesa e expansão do domínio lusitano entre os séculos XVI e XVIII, sendo a capital do Brasil de 1549 a 1763.


Salvador e sua importância:
  Ø  1º Sede administrativa do governo ( 1º Capital do Brasil)
  Ø  Ponto estratégico para o comércio ( Carreiras das Índias)
  Ø  Crescimento Populacional




⇒ DEZ FREGUESIAS

Nos meados do século XIX, a cidade do Salvador, a baia de todos os Santos, contava com dez freguesias urbanas. A freguesia, no sentido lato, significa o conjunto de paroquianos, povoação sob o ponto de vista eclesiástico, clientela. Neste estudo é um espaço material limitado, divisão administrativa e religiosa da cidade, onde estavam localizados os habitantes, ligados à sua igreja matriz. Segue abaixo as freguesias em ordem cronológica:


· Sé ou São Salvador
· Nossa Senhora da Vitória
· Nossa Senhora da Conceição da Praia
· Santo Antônio Além do Carmo
· São Pedro Velho
· Santana do Sacramento
· Santíssimo Sacramento da Rua do Passo
· Nossa Senhora de Brotas
· Santíssimo Sacramento do Pilar, e
· Nossa Senhora da Penha


A freguesia era constituída de muitas atividades, principalmente nas atividades religiosas, naturais a sua própria concepção. Estas atividades eram dirigidas pelos párocos, dentro das igrejas e suas dependências e espalhada pelas ruas através de procissões. Funções políticas eram também inerentes às freguesias, pois nos seus consistórios reuniam-se as comissões a fim de compor ou rever as listas de qualificação eleitoral. As próprias eleições primárias se realizavam na Igreja Matriz. As atividades econômicas estavam representadas pelo direito e dever que tinha o pároco de registrar em livros para isso destinados, as terras, fazendas, engenhos, sítios ou chácaras chamados “roças”, situadas nos limites da cidade, donde as freguesias serem urbanas e rurais. Eram os Registros Eclesiásticos de Terras. Foram encontradas informações de que também nas igrejas matrizes eram organizadas as listas para aqueles que deveriam compor as Companhias das Guardas Nacionais. Tinham funções sociais, pelas festas religiosas que ali se realizavam, congregando grande parte da população da cidade, representada por todas as suas categorias do mais pobre ao mais rico. As atividades das irmandades também de sentido social, concentravam-se nas matrizes das freguesias. Rara era aquela igreja matriz que não contasse uma ou mais irmandades, filiadas aos seus padroeiros. E, finalmente, até mesmo função preventiva em favor da saúde dos seus habitantes, exercia a freguesia, pois nelas muitas vezes se vacinavam os cidadãos contra a varíola.



⇒ O comércio na Cidade


Salvador era uma cidade comercial, desde os primeiros séculos da colonização. Nas freguesias da cidade Baixa existiam muitas lojas de fazendas, miudezas, ferragens, peças para embarcações, drogas. Armazéns de molhados, e os conhecidos cobertos eram lugares de muito comércio, especialmente de vendas de quinquilharias. Trapiches existiam para a mercancia de ir e vir. Recebiam os produtos da terra, destinados a exportação; açúcar, fumo, algodão, aguardente, couros, madeiras, piaçava, e os que se importavam , como os vinhos, os azeites, os vinagres, a farinha do reino, o bacalhau. A alfândega Geral ficava na freguesia da conceição da Praia, com todos os funcionários indispensáveis à inspeção das mercadorias. Ainda na mesma freguesia, o arsenal, a Ribeira das naus, com construtor de embarcações e oficinas necessárias: o estaleiro para a feitura das naus e fragatas, e um outro menor para as corvetas e brigues de guerra. A Praça do Comércio , dando para o mar, era edifício de respeitáveis dimensões e dos mais luxuosos da cidade, poder-se-ia nele encontrar uma sala para escrituração, a serviço dos negociantes. Recinto para leilões e, o armazém de arrecadação. 

Na praça de São José , junto da igreja de Santa Barbara, havia feira do pescado, assim como no Cais Dourado estavam expostos à venda os frutos da terra, produtos de abastecimento trazidos através da baia.

No Pilar existia, existiam os armazéns para a arrecadação do açúcar e quatro prensas de algodão. Nessa freguesia estavam estabelecidos os maiores comerciantes em grosso da praça da cidade. Ali, na verdade se concentrava os graves e sólidos comerciantes Portugueses que haviam chegado ao Brasil, como imigrantes depois da independência, e aqui fizeram fortuna.Na calçada do Bonfim , quarteirão pertencente a mesma freguesia, residiam os mais ricos desses lusitanos. 

Na Penha, existiam estaleiros para a construção de grandes embarcações ou de fragatas. No Sitio do Papagaio encontrava- se os alambiques para destilar a cachaça, e numerosos lugares onde se encontrava o pescado. No Porto do Bonfim havia uma fábrica de vidros, e nessa freguesia, durante o século XIX, instalaram-se algumas das primeiras fábricas de tecidos. Na Ribeira de Itapagipe, o povo podia atravessar em barca, de um lado para o outro, procurando a terra firme dos subúrbios, sendo animais também aceitos nesse precário meio de transporte. 











⇶ Freguesia de Santo Antônio Além do Carmo

A freguesia de Santo Antônio Além do Carmo, criada pelo bispo D. Pedro da Silva Sampaio, em 1646, era das maiores em extensão, compreendendo dois distritos: o 1º urbano, o 2º rural, distanciado do núcleo da cidade umas “boas léguas”, estendendo-se até os limites da freguesia de São Bartolomeu de Pirajá suburbana da cidade, de um lado, e pelo outro alcançando a freguesia de nossa Senhora de Brotas.
Eram seus limites: com o passo, nos Guindastes dos Padres na Vala; com o Pilar, nas ladeiras de Águas Brusca e de Água de Meninos; com São Bartolomeu de Pirajá, em Itapajipe de Cima; com Santana, nas hortas dos religiosos do Carmo, e com Itapuã, em Prambée, onde também se limitava com Brotas. Sua matriz situada no 1º distrito, tinha invocação de Santo Antônio. Estavam contidos nesta freguesia: a capela de Nossa Senhora da Conceição, dos homens pardos do Boqueirão, Nossa Senhora do Rosário, dos quinzes Mistérios, Senhor dos Perdões, onde existia um recolhimento de mulheres, Nossa Senhora da Conceição da Lapinha, Santo Antônio da Fábrica do Queimado, Nossa Senhora do Resgate, a Capela do Patrocínio do Senhor São José dos Agonizantes, a de Nossa Senhora da Soledade, do Convento das Ursulinas do Coração de Jesus, a do Cemitério das Quinta, a de São Gonçalo, e o oratório da antiga Quinta dos Lázaros. Em 1660 os jesuítas descobrem a Fonte do Queimado, localizado na Fazenda santo Antônio do Queimado, que em 1852, após reformas foi fundada nesta fonte a companhia de Água do Queimado, com finalidade de distribuir água a população, principalmente através de Chafarizes. Esta companhia foi à primeira do Brasil.
  A Importância do Bairro da Caixa D´água na Cidade de Salvador




No século 16, o abastecimento de água em Salvador era feito diretamente através dos rios, lagos e fontes naturais da Cidade. Com o tempo, algumas fontes receberam uma estrutura de alvenaria. A Fonte do Queimado, localizada na divisa dos bairros da Lapinha e Caixa D'Água, foi descoberta pelos jesuítas por volta de 1600. O local é o berço do rio Queimado. 

Em 1801, a fonte recebeu uma edificação em alvenaria. Em 1839, começou a ser construída a fábrica de tecidos de Santo Antônio do Queimado. A antiga Companhia de Águas do Queimado teve sua criação autorizada, em 17 de junho 1852, através da Lei Provincial nº 451, com instalações na antiga Fazenda Santo Antônio do Queimado, ao lado da fábrica de tecidos. A cidade de Salvador teve seu fornecimento de água contratado, pelo presidente da Província, com dois cidadãos que formam uma companhia e instalado em 1º de Fevereiro de 1853 com escritório na Rua Nova do Comércio, n.21, 1º andar. O diretor era Paulo Pereira Monteiro e o vice-diretor, o jurista baiano Francisco Antonio Pereira Rocha, um dos sócios fundadores.







A Companhia construiu uma represa no local e construiu cisternas e cacimbas pela Cidade. Em oito de dezembro de 1856, a água do Sistema do Queimado jorrou nos chafarizes importados da Europa, tornando-se a primeira no Brasil a distribuir água encanada à população. Eram extraída a água do açude e vertentes do Queimado, e distribuída a cidade por meio de Chafarizes, totalizando 22 chafarizes espalhados pela cidade, incluindo o Chafariz do Terreiro de Jesus.

Desde logo estabeleceram cinco chafarizes na Cidade Baixa, entre Água de Meninos e a Conceição da Praia, a sete na cidade Alta, da Cruz do Pascoal até o largo da Piedade. Todas as obras dos Chafarizes deveriam ficar prontas dentro de cinco anos, a contar de 1852. Em 1858, foi instalado, ao lado da ponte do Consulado, uma torneira para fornecimento de água aos navios. Foram também instaladas, na Cidade Baixa, onze torneiras para combate a incêndio, pelo sistema Mr. Mary, assentados desde o Corpo Santo até o trapiche Moncorvo. Em 1884, já eram 92 dessas torneiras em toda a Cidade.

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A companhia não poderia vender a água por mais de vinte réis o pote ou barril de três canadas. Era concedida em 17 de janeiro de 1853, a companhia do Queimado o direito de Usufruir do contrato com o governo e de suas obras pelo prazo de 30 anos. O governo da Província concorreu com a quantia de 150:000$000, realizados dentro de três anos, para fornecimento de água a cidade. Algumas casas ou roças particulares, que contava com fontes dentro dos seus limites, daquelas se abasteciam, e vendiam o precioso liquido, pelo preço que lhes convinha.

Em 1856, a companhia fundada para fornecer água às cidades Alta e baixa, das vertentes do Queimado, havia canalizado mais de cem braças da água existente naquele brejo. Continuava ativamente suas obras e já se achava concluído o reservatório com a capacidade para 3.200 pipas; (era um conjunto de três reservatórios, um apoiado com mil m³ e dois elevados, em caixas metálicas, com cem m³ cada) as máquinas destinadas a suspender a água do brejo do Queimado até o reservatório ; também já se encontravam instaladas na Cruz do Cosme (atual bairro da Caixa D´água), lugar alto, permitindo fácil redistribuição. Eram duas máquinas a vapor, de alta pressão, assentadas paralelamente na rocha viva, e cantaria de Lisboa. O sistema usava bombeamento acionado a vapor, pois não existiam sistemas de energia elétrica na época.




Aspiravam a água recebida que elevava à altura do depósito; ali existia uma galeria na qual a água era filtrada por meio de 20 litros de lã, antes de entrar no reservatório. Gastava-se uma tonelada de carvão para suspender 3.200 pipas do liquido até o reservatório. Dali a água era distribuída pelos encanamentos que já, nessa data, havia atingido o Cais Dourado, na Cidade Baixa, e a rua do Tijolo na alta. Dados apontam que o reservatório foi inaugurado oficialmente em 1859, com a presença de D. Pedro II.

Em 1860, de acordo com a Fala do Presidente da Bahia na Assembleia, Herculano Ferreira Penna, a Companhia possuía também uma grua hidráulica no Cais, junto à Praça do Comércio, para o abastecimento de água dos navios. Nessa época, algumas das principais ruas da Cidade já possuíam encanamento e construíam-se grandes artérias para abastecer a Cidade, desde a Barra até o Bonfim. A venda de água nos chafarizes chegava a 13 mil barris por dia, no verão, e nas penas d'água atingia 8 mil barris. Pretendia-se estender os encanamentos a todas as ruas e becos. As ações da Companhia estavam bem valorizadas

O contrato foi renovado em 22 de dezembro de 1870, com base em lei de 17 de junho do mesmo ano. Nesse novo contrato, a Companhia estava obrigada a começar, dentro de um ano, as obras para o encanamento das águas do Riacho Negrão, Fonte da Telha e Rio Camarojipe (Camarajipe), e as concluir no prazo de quatro anos. Além disso, a Companhia estava autorizada a instalar novos chafarizes e obrigada a construir quatro casas de banho.

Os reservatórios elevados da Cruz do Cosme eram popularmente conhecidos como caixa d'água e esse ficou o nome do bairro. Hoje, as caixas são em alvenaria e muito maiores. Em 1905, a Companhia do Queimado foi adquirida pelo Município e funcionou no local até 1930.

Em 1926, o Governo da Bahia assumiu a responsabilidade pelo abastecimento de água de Salvador. Hoje, as instalações pertencem à Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento), uma empresa de economia mista, criada em 1971, cujo acionista majoritário é o Governo do Estado da Bahia.

Junto ao reservatório elevado, funciona o Museu Arqueológico da Embasa, inaugurado em 2006. O Parque do Queimado é um centro cultural, tombado pelo Iphan, desde 1937, junto com a Fonte do Queimado. Em dezembro de 2014, parte das instalações foram cedidas ao Programa Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba).



Expandindo o Conhecimento: Fábrica de Tecidos de Santo Antônio do Queimado

Ao lado da Companhia de Águas, ficava a fábrica de tecidos de Santo Antônio do Queimado, montada em 1840, ou antes, e adquirida, em 1844, por Paulo Pereira Monteiro. Espinheira Junior era sócio de Monteiro.
A Lei Provincial n. 246 de 20 de maio de 1846 favorecia a indústria têxtil da Bahia, que se tornou o principal polo nacional do ramo. Essa Lei isentou, por dez anos, dos direitos provinciais, os produtos das fábricas de tecer e de fiar algodão, de Valença e do Queimado. Em 1849, esses benefícios foram estendidos às demais fábricas de tecidos da Bahia. A Fábrica de Valença era dirigida pelo engenheiro baiano Augusto Frederico de Lacerda, que posteriormente uniu-se ao seu irmão Antônio de Lacerda para construir o ousado Elevador.
Posteriormente, Monteiro contratou na França, o engenheiro civil francês José Revault, para a instalação das máquinas à vapor da fábrica de Sto. Antônio do Queimado. A fábrica operava anteriormente com um sistema hidráulico e passou a operar com um motor à vapor de 18 cavalos. Depois, Revault passou a dirigir a fábrica, que tinha 30 teares e fabricava 1.000 varas de tecido por dia.
Na 2ª Exposição Nacional de 1866, realizada no Rio de Janeiro, a fábrica de tecidos do Queimado recebeu medalha de prata.

Em 1857, o engenheiro Revault deixou a fábrica do Queimado para montar outra fábrica de tecidos, a Modelo, na Rua da Valla, da qual era sócio fundador e gerente. Em 1866, sua fábrica contava com 39 teares franceses, com capacidade para produzir 1.500 varas de tecido, por dia. Revault participou também da instalação dos chafarizes da Cidade, a partir de 1855, e da montagem do Monumento Riachuelo, em 1874.

Parte das antigas instalações do Queimado



→ Caixa D´água Hoje


O Bairro do Caixa D´ água e adjacências no início do século XX pertenciam todos a Fazenda Santo Antônio do Queimado, grande produtora de laranjas entre outros produtos. Entre essa fazenda passava uma estrada importante, denominada “ estradas das Boiadas”, que segundo pesquisas de formação estava localizada na atual Rua Saldanha Marinho. A mesma permitia a entrada e saída de mercadorias que abastecia a cidade de Salvador e foi principal via de passagem para pessoas que saíram do interior fugindo da seca para trabalhar nas Fazendas e cidade em desenvolvimento.Com o aumento do êxodo rural e a expansão comercial e financeira da cidade de Salvador, houve a necessidade de uma maior urbanização e formato de bairros para a população que ocupavam esse território. A região que antes era uma grande fazenda tornou-se a "Grande Liberdade"ou "Região Administrativa IV" que incluiu a Caixa d água e seus bairros vizinhos já mencionados, com o maior deles a Liberdade. O primeiro reservatório de alvenaria do pais foi construído no bairro, através desta companhia veio a água canalizada. Este fato se transformou em um referencial tão forte para a comunidade local e para a história da água em Salvador, que além de atrair novas pessoas para a área e encher de orgulho sua população, acabou dando nome ao bairro. A Caixa D’Água é um local cuja geografia é marcada por becos e travessas, tendo como ponto central a Rua Saldanha Marinho onde se concentra todo o comércio e de onde partem todas as bifurcações que levam aos bairros adjacentes.

Foto: Retirada da Internet

Na história da Caixa D’Água vale ainda ressaltar o grande símbolo da educação pública, a Escola Parque concebida por Anísio Teixeira e tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (IPAC) fundada em 1950, pelo então Governador Otávio Mangabeira, sendo a primeira escola com período integral do país.









Entrevista no Bairro- Caixa D ´água  

Nome fictício: Dona Maria
Profissão: Dona de casa
Idade atual: 60 anos
Tempo que morou no Bairro: 40 anos
Idade que chegou no Bairro: 5 anos
                        
Entrevista livre, foi solicitado a entrevistada que falasse um pouco do Bairro da Caixa D´água: suas festas, comércio, mudanças com o passar do tempo, tipos de moradias e serviços.

A mesma inicia falando da Rua Pedro Ivo, rua importante do bairro, pois foi onde passei minha infância. A mesma relata que a rua antigamente se chamava Avenida Salur, depois mudaram para Pedro Ivo. Informa na  entrevista que a mesma não era asfaltada, o esgoto corria a céu aberto, todas as casas tinham fossa, pois não tinha rede de esgoto na época. Casas reservavam água potável em tonel de flandi, localizados nos quintais.Geralmente as casas eram de telhados, e só tinha o térreo a mesma era construída com blocos e óleo de baleia para prender os tijolos.

As crianças brincavam na rua de fura pé, macaquinho, guerror, carro de rolimã, roda, picula, e etc em meio a esgoto que corria a céu aberto. A rua tinha uma venda famosa do S. Uilhio, que vendia chouriças, ovos, pães e etc.

Antigamente compravam-se muitas coisas na porta como miudezas (fita de cabelo, tubo de linha e etc). O rapaz era conhecido como Freguês da Miudeza.

Na rua tinha a casa do finado Bertozzo que tinha um curral de bois, onde vendia leite montado ao cavalo nas portas dos moradores da comunidade. Diz a lenda no bairro, que mesmo após a morte do finado Bertozzo, o seu espírito ainda calvagava pelas ruas.
Se vendia peixe na porta, verduras, quase não precisava sair de casa para comprar nas vendas.

Muitas pessoas criavam galinhas, pintos e perus em casa. A mesma durante o relato conta a história da sua galinha Solange ao qual a família criou muita afeição, e por isso não tinha coragem de matar. A galinha estava obesa, já colocava ovos com duas gemas e precisou levar para a tia que morava distante para matar. Naquela época era comum matar os animais no fundo do quintal.

Carros eram raríssimos, festas no bairro não tinha muitas, recordo-me mais de bares. Lá na rua quem tinha carro era apenas o goleiro do Ipiranga Gustavo, um Gordini sensação da época e um táxi euromilhoes preto. Televisão era artigo de luxo, lá era única casa da rua que tinha televisão a cores, assim que lançou.

Os tanques ficavam em cima do banheiro, pois as torneiras eram conectadas diretas no tanque, não tinha chuveiro como hoje em dia. Os postes do bairro eram de madeiras, tinham muitos armazéns (pequenas vendas), que foram se modernizando e sumindo com o tempo dando lugar aos mercados.

O lixo era pego no carro- de- mão na porta de casa pelo rapaz e jogado no buracão. Tinha muita carroça no bairro que transportava material de construção, apesar de ter poucas casas de vendas de materiais de construção no mesmo.

O nome do bairro Caixa D´água é devido ao reservatório que encontra-se lá. No largo do Tamarineiro, principal ponto do bairro, tinha um pé famoso de Tamarino, que serviu de ponto de referência para localizar o largo e assim foi batizado com este nome, tempo depois o mesmo foi cortado para dar lugar a um modulo policial, que hoje encontra-se vazio. Lembro de um Chafariz muito usado na região da baixa de Quintas, que algumas pessoas utilizava pra pegar água, fontes não me recordo no Bairro.

Apesar das mudanças e avanços sinto muita falta da paz que permeava o Bairro, do respeito aos mais velhos que existia naquela época.








REFERÊNCIAS:


Silva, Cecilia. A Cidade do Salvador nos seus 454 anos. Salvador Eduneb, 2005

Acessado em 05/05/2017 http://www.cidade-salvador.com/bibliografia/francisco-rocha.htm

FONTE: NASCIMENTO, Anna Amélia Vieira. Dez Freguesias do Salvador; Aspectos Sociais e Urbanos do Século XIX. Salvador, FCEBa., 1986