segunda-feira, 19 de junho de 2017

Entrevista no Bairro- Caixa D ´água  

Nome fictício: Dona Maria
Profissão: Dona de casa
Idade atual: 60 anos
Tempo que morou no Bairro: 40 anos
Idade que chegou no Bairro: 5 anos
                        
Entrevista livre, foi solicitado a entrevistada que falasse um pouco do Bairro da Caixa D´água: suas festas, comércio, mudanças com o passar do tempo, tipos de moradias e serviços.

A mesma inicia falando da Rua Pedro Ivo, rua importante do bairro, pois foi onde passei minha infância. A mesma relata que a rua antigamente se chamava Avenida Salur, depois mudaram para Pedro Ivo. Informa na  entrevista que a mesma não era asfaltada, o esgoto corria a céu aberto, todas as casas tinham fossa, pois não tinha rede de esgoto na época. Casas reservavam água potável em tonel de flandi, localizados nos quintais.Geralmente as casas eram de telhados, e só tinha o térreo a mesma era construída com blocos e óleo de baleia para prender os tijolos.

As crianças brincavam na rua de fura pé, macaquinho, guerror, carro de rolimã, roda, picula, e etc em meio a esgoto que corria a céu aberto. A rua tinha uma venda famosa do S. Uilhio, que vendia chouriças, ovos, pães e etc.

Antigamente compravam-se muitas coisas na porta como miudezas (fita de cabelo, tubo de linha e etc). O rapaz era conhecido como Freguês da Miudeza.

Na rua tinha a casa do finado Bertozzo que tinha um curral de bois, onde vendia leite montado ao cavalo nas portas dos moradores da comunidade. Diz a lenda no bairro, que mesmo após a morte do finado Bertozzo, o seu espírito ainda calvagava pelas ruas.
Se vendia peixe na porta, verduras, quase não precisava sair de casa para comprar nas vendas.

Muitas pessoas criavam galinhas, pintos e perus em casa. A mesma durante o relato conta a história da sua galinha Solange ao qual a família criou muita afeição, e por isso não tinha coragem de matar. A galinha estava obesa, já colocava ovos com duas gemas e precisou levar para a tia que morava distante para matar. Naquela época era comum matar os animais no fundo do quintal.

Carros eram raríssimos, festas no bairro não tinha muitas, recordo-me mais de bares. Lá na rua quem tinha carro era apenas o goleiro do Ipiranga Gustavo, um Gordini sensação da época e um táxi euromilhoes preto. Televisão era artigo de luxo, lá era única casa da rua que tinha televisão a cores, assim que lançou.

Os tanques ficavam em cima do banheiro, pois as torneiras eram conectadas diretas no tanque, não tinha chuveiro como hoje em dia. Os postes do bairro eram de madeiras, tinham muitos armazéns (pequenas vendas), que foram se modernizando e sumindo com o tempo dando lugar aos mercados.

O lixo era pego no carro- de- mão na porta de casa pelo rapaz e jogado no buracão. Tinha muita carroça no bairro que transportava material de construção, apesar de ter poucas casas de vendas de materiais de construção no mesmo.

O nome do bairro Caixa D´água é devido ao reservatório que encontra-se lá. No largo do Tamarineiro, principal ponto do bairro, tinha um pé famoso de Tamarino, que serviu de ponto de referência para localizar o largo e assim foi batizado com este nome, tempo depois o mesmo foi cortado para dar lugar a um modulo policial, que hoje encontra-se vazio. Lembro de um Chafariz muito usado na região da baixa de Quintas, que algumas pessoas utilizava pra pegar água, fontes não me recordo no Bairro.

Apesar das mudanças e avanços sinto muita falta da paz que permeava o Bairro, do respeito aos mais velhos que existia naquela época.








REFERÊNCIAS:


Silva, Cecilia. A Cidade do Salvador nos seus 454 anos. Salvador Eduneb, 2005

Acessado em 05/05/2017 http://www.cidade-salvador.com/bibliografia/francisco-rocha.htm

FONTE: NASCIMENTO, Anna Amélia Vieira. Dez Freguesias do Salvador; Aspectos Sociais e Urbanos do Século XIX. Salvador, FCEBa., 1986






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